Por Elisete Greve Tedesco
Por volta do ano de 1.870, em pleno regime escravagista, foi erigida uma pequena capela para que em seu interior, fossem celebrados os santos ofícios do cristianismo local, para todos os escravos ou libertos da raça negra que morassem nesta localidade.
A pequena e tosca capela, foi construída no Bairro do Novo Mundo, hoje denominado por Fortaleza, posteriormente, à capela do Espírito Santo dos Barretos, e surgiu com o intento de atender ao exercício da fé cristã dos escravos ou negros libertos, moradores em Barretos, impedidos de frequentar a Capela Mor, por puro e simples preconceito racial. A esta nova pequena capela foi dado o nome da padroeira dos escravos: “Nossa Senhora do Rosário”.
No decorrer dos anos, com o consequente progresso do lugarejo e libertação dos escravos, a capela passou a ser frequentada não somente pelos negros, mas também por alguns brancos que depositavam em Nossa Senhora do Rosário a sua fé, numa nítida demonstração de que a fé supera todos os obstáculos.
Afirmam alguns historiadores que neste local, onde foi erigida a pequena capelinha, havia apenas um cruzeiro, erguido em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, mas não existem registros que atestem tal fato.
Com a vinda da ferrovia no ano de 1.909, a capela foi demolida, dando lugar à construção da Estação da Ferrovia Paulista de Estradas de Ferro.
Um novo terreno, também situado no Bairro do Novo Mundo, foi doado para que fosse efetuada a construção de uma nova capela. Por provisão datada de 4 de maio de 1.909 e assinada por D. José Marcondes Homen de Melo, tomou posse da mesma, em 6 de junho, o Padre Ramiro de Campos Meireles e em 1º de agosto, do mesmo ano, foi dada a bênção à nova capela de Nossa Senhora do Rosário pelo novo vigário.
O Altar-Mor da capela, uma verdadeira obra de arte, foi entalhado por volta de 1.910, pelas hábeis mãos do imigrante italiano, natural de Belvedere Marittimo, Francisco Scannavino, membro de tradicional família barretense. Em seu frontispício, o altar apresenta, esculpido em alto relevo, o rosário de Nossa Senhora. Esta obra de arte hoje faz parte do acervo do Museu “Ruy Menezes”, como uma de suas principais relíquias.
No período compreendido entre 1.910 e 1.940, em prol da capela, foram realizadas varias celebrações religiosas, acompanhadas por quermesses e leilões, que realizados em suas imediações, tornaram-se famosos, atraindo moradores de toda a cidade. Ao alvorecer, o repicar dos sinos e os fogos de artifício colorindo o céu, com estrelas multicores, avisavam a população, que nova festa se anunciava. A salva de 21 tiros e a banda de música, completavam o glorioso espetáculo. Ao cair da tarde, partia da igrejinha, em procissão, uma legião de anjos, virgens e fiéis que, percorrendo as ruas da cidade, conduziam os andores, contendo as imagens de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário. Mesmo com o grande movimento, o dinheiro arrecadado não era suficiente para se erguer o novo templo.
Por volta do ano de 1.926, o local onde estava instalada a capela, servia como caminho ao gado destinado ao Frigorífico Anglo. Neste período conturbado de nossa história, marcado por brigas, tiroteios e mortes, o imenso cruzeiro em aroeira, assentado defronte à capela, estendia seus braços em proteção àquele santo lugar, cercado por pequenas chácaras e casas do Baixo Meretrício, situadas nas imediações das avenidas 1, 3 e 5, e ruas 22 e 24.
Por ato de extrema bondade por parte de Dona Victorina Ozória Silvares, esposa de Francisco de Almeida Silvares, primeiro tabelião de Barretos, em 14 de março de 1.927, foi lavrada em cartório a doação à igreja do terreno onde já achava-se construída a capela em homenagem à padroeira dos escravos.
No ano de 1.933, foi nomeado, como vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo, o Padre Vicente Francisco de Jesus, que foi o grande responsável pelo desmembramento da “Freguesia”, ficando a partir de então, criadas as Paróquias de São Sebastião do Ibitú em 5 de dezembro, e a de Nossa Senhora do Rosário, em 20 de dezembro do ano de 1.935.
O primeiro batizado realizado na Paróquia do Rosário data de 25 de outubro de 1.936 e o primeiro casamento celebrado deu-se em 15 de junho de 1.937, ambos assentamentos registrados e assinados pelo pró-vigário Henrique Ramos, que assumiu a Paróquia em 7 de outubro de 1.936.
Não comportando o número de fiéis, um novo e maior templo se fazia necessário; foi então que o Pe. Henrique, auxiliado pelos seus fiéis paroquianos, adquiriu mais dois terrenos contíguos, sendo as respectivas escrituras lavradas, uma em 17 de julho, e a outra, em 6 de novembro de 1.940.
O Pe. Henrique Ramos, permaneceu conduzindo o rebanho da paróquia do Rosário até 10 de janeiro de 1.943, sendo substituído pelo 2º. Vigário, Pe. Bianor Aranha, que assumiu suas funções, em 20 de janeiro de 1.943, permanecendo até 13 de janeiro de 1.946, quando assumiu em 01 de abril do mesmo ano, o Pe. Félix Gonzales.
Com grande solenidade e na presença de várias autoridades, civis e eclesiásticas, e grande número de fiéis, em 8 de dezembro de 1.946, sob o comando do Pe. Félix Gonzales, realizou-se a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da nova Igreja.
Permanecendo na paróquia até 2 de março de 1.947, o Pe. Félix cedeu lugar ao Pe. Alfredo Lemos, que assumindo em 3 de março, exerceu a função somente pelo prazo de cinco meses. Em 31 de dezembro de 1.947, o Pe. Aurélio Arbelôa assumiu a função de pároco dedicando-se totalmente à missão de trabalhar e dar vida às procissões e às famosas “Quermesses da Fortaleza”. Permanecendo nesta função até o ano de 1.950, infelizmente, não conseguiu angariar fundos para que a construção saísse dos alicerces.
Com a vinda dos Padres Estigmatinos, em 31 de março de 1.950, estes foram capitaneados pelo Pe. Paulo Campos Dall’ Orto, que assumiu a paróquia do Rosário em 24 de junho do mesmo ano, nela permanecendo até 6 de março de 1.952.
Em 28 de março de 1.952, o Pe. Primo Scussolino assumiu a paróquia, sendo realizada em 13 de abril de 1.952, uma missa em ação de graças por sua posse. Movido pela fé inabalável de seu apostolado, pelo dinamismo e liderança que lhe eram peculiares, passou a promover as famosas quermesses, contando com a colaboração das colônias de imigrantes, portugueses, japoneses e italianos, sendo que cada festa realizada superava a do ano anterior. Neste mesmo ano, o Pe. Primo promoveu o ingresso dos “Congregados Marianos”.
Objetivando a construção do novo templo, o Pe. Primo Scussolino trabalhou arduamente, angariando fundos, fazendo campanhas, motivo pelo qual foi agraciado com um Jeep, para que pudesse percorrer com maior rapidez os trajetos em rumo à solidariedade. O árduo trabalho do Pe. Primo frutificou, dando origem ao grandioso templo da Fortaleza, e graças a sua localização geográfica, é visto e admirado por quase toda cidade.
Em 25 de março de 1.956, foram ingressados na paróquia, a “Legião de Maria”, a “Corte de São José”, o “Apostolado da Oração”, a “Irmandade do Rosário” e a “Cruzadinha”, composta só por meninas. A Congregação dos Estigmatinos assumindo o comando da Igreja de Nossa Senhora Aparecida em Brasília, solicita que o Pe. Primo assuma o seu comando, e infelizmente desta forma, ele deixa nossa cidade, passando a residir na capital do país, local de sua morte e sepultamento. Pela dedicação deste sacerdote à comunidade, numa singela homenagem, seu nome foi dado à praça que orna a majestosa edificação sacra.
Com a missão de conduzir os fiéis, estiveram à frente da paróquia os padres Leopoldo e Osório, nela permanecendo por um curto período. Em 20 de março de 1.960, assumiu o Pe. Diocesano de Jaboticabal, o barretense, Archimedes Gai, que foi empossado como pároco, abrangendo a paróquia neste período, as Capelas de São Luís, a de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Fazenda Buracão e a de São Sebastião, localizada na Fazenda Cachoeirinha.
Dotado de vasta cultura, o Pe. Gai conduziu de forma carismática suas homilias, conquistando e cativando centenas de fiéis em seus 24 anos de dedicação à comunidade do Rosário, agraciando a igreja, com onze padres, várias religiosas, introduzindo os “Vicentinos” e os “Vicentinos Jovens” para que auxiliassem aos mais necessitados. No campo material, renovou a iluminação da igreja, dotou-a de ventiladores, substituiu o antigo altar de madeira, pelo moderno altar em mármore. Posteriormente do Concílio, virou o altar para o povo, além de substituir por mármore o piso do presbitério. Em 1.973, comandou a total pintura da igreja pelo pintor espanhol Francisco Peres, que, de forma artística, evidenciou os Quinze Mistérios. Na parede da frente, os Mistérios Gozosos, têm no centro, o nascimento de Jesus, na do fundo os Dolorosos, têm no centro do presbitério a crucificação e os personagens que a circundam representam a humanidade em suas mais variadas disposições para com o Cristo, numa demonstração de Devoção, de Indiferença, de Curiosidade e de Adversão. No forro evidenciam-se os Mistérios Gloriosos e os símbolos dos Evangelistas. Nas laterais as Quatorze Estações da Via Sacra. No Batistério, a imagem de São João Batista batizando Jesus, se faz presente. No Coro figura a imagem de Santa Cecília tocando harpa. Durante a administração do Monsenhor Archimedes Gai, a comunidade foi dotada de uma nova Casa Paroquial e de um amplo Centro Pastoral.
A Paróquia Nossa Senhora do Rosário, tornando-se geograficamente muito extensa com o crescimento demográfico da cidade, foi desmembrada em 1982 com a criação da Paróquia Santa Ana e São Joaquim, tendo como primeiro pároco Pe. Salvador Pereira Borges.
Por ordem do Bispo de Barretos, Dom Antônio Maria Mucciolo, o Monsenhor deixou a paróquia do Rosário, em 30 de junho de 1.984, assumindo o Seminário Diocesano na Cidade de Maria.
Em 1º. de julho de 1.984, assumiram a paróquia os padres da “Congregação de Jesus Sacerdote”, Pe. André Bortolameotti, Pe. Carlos Bozza e Pe. Mário Revolti. No dia da posse, assumiram somente os padres Carlos e Mário, pois encontrando-se gravemente enfermo, Pe. André só pode ser empossado em 17 de dezembro de 1.984.
Durante a gestão dos Padres de “Jesus Sacerdote”, ficou como pároco o Pe. André, como responsável pela Catequese da Paróquia o Pe. Carlos e como responsável pelas Fazendas, o Pe. Mário. Os padres, Italianos de nascimento, renovaram a aparelhagem de som a igreja, substituíram o telhado e melhoraram a iluminação. Em 9 de janeiro de 1.994, contrataram os artistas plásticos, Cesário Ceperó, Pedro Perozzi e Lourival Betelli, que ficaram responsáveis pela restauração da pintura e acréscimo da paisagem nas figuras já existentes. A pia batismal foi colocada à esquerda do altar central e o local onde estava localizado o Batistério hoje abriga uma salinha de atendimento para aconselhamento e confissões. A obra foi concluída e entregue à comunidade em 7 de junho de 1.994. Aos 5 de fevereiro de 2001 tomou posse da Paróquia Pe. Carlos Bozza, permanecendo até o dia 4 de fevereiro de 2006.
Um segundo desmembramento da Paróquia aconteceu com a criação da nova Paróquia São Luiz Gonzaga, no começo do ano de 2002, tendo como primeiro pároco Pe. João Sergio Borges.
No dia 12 de fevereiro de 2006, assumiu a Paróquia Nossa Senhora do Rosário Pe. José Antônio de Sousa permanecendo até o dia 30 de julho de 2011.
Pe. André Bortolameotti veio a falecer no dia 28 de outubro de 2010 e, pela vontade do povo que o considerava um santo, foi sepultado na mesma Igreja do Rosário, onde os paroquianos e amigos podem rezar e pedir a sua intercessão.
No dia 31 de julho de 2011 tomou posse como pároco de Nossa Senhora do Rosário o Pe. Costante Gualdi, Agregado Interno da Congregação de Jesus Sacerdote.
No dia 07 de outubro de 2015, Solenidade de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira da Paróquia, o senhor Bispo diocesano, Dom Milton Kenan Júnior, durante a solene Santa Missa elevou a Igreja do Rosário em Santuário Mariano da Diocese, incentivando assim a devoção a Nossa Senhora através da oração do santo Terço.
Na festa de São Judas Tadeu, aos 28 de outubro de 2015, lembramos o quinto aniversário de falecimento do Pe. André Bortolameotti. Nesta ocasião, durante a celebração eucarística, o nosso bispo diocesano, Dom Milton Kenan Júnior, manifestou o propósito de iniciar o processo de Canonização do saudoso Pe. André.
Aos 20 de dezembro de 2015, dia em que a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário celebra o Jubileu de 80 anos de sua criação, Dom Milton presidiu a cerimônia da Dedicação da Igreja e do Altar com a participação de um notável número de fiéis e a presença de alguns padres nativos desta Paróquia e dos Padres Costante e Carlos, da Congregação de Jesus Sacerdote.
Agradecimento Especial: à senhora Deise Maria Cavenaghi, Secretária da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.
Bibliografia: “Álbum do Centenário de Barretos” – José Tedesco e Ruy Menezes; “Barretos de Outrora” – Osório Rocha; Registros da Igreja Nossa Senhora do Rosário.
Imagens: Acervo Particular, Igreja Nossa Senhora do Rosário e digitalizadas do Álbum do Centenário de Barretos e Jornal “Barretos Memórias” de Wilson Franco de Britto.