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    Era dos elétrons

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    Nossa sociedade e, consequentemente nossa igreja, vem passando por transformações nas ultimas décadas. Em 1950, a televisão chegou ao Brasil e, atualmente, segundo o IBGE, apenas 2,8% dos domicílios brasileiros não possuem televisores. Além disso, atualmente existem mais telefones celulares em utilização que habitantes em nosso país. Quais são as consequências dessa revolução tecnológica?

    “Na era dos elétrons, isolar-se significa, inversamente, conectar-se com o mundo”, essa foi a conclusão que Paul Virilio chegou ao estudar as mudanças comportamentais geradas pela utilização em massa dos meios de comunicação. Esse arquiteto francês, buscando planejar residências melhor, observou que o quarto, que era onde as pessoas se retiravam do mundo, acabou virando mais um local para utilizar o celular, conectando-se com o mundo e muitas vezes evitando a família que está do outro lado da porta.

    Podemos perceber mudanças desse tipo em outras situações cotidianas. Não precisamos estar mais em um local fixo para trabalharmos, estamos a todo tempo recebendo informações, afazeres e notícias novas. Algumas pessoas compartilham com o mundo cada passo que estão dando utilizando as redes. E, infelizmente, coincidindo com essa era dos elétrons, o número de pessoas sofrendo com a depressão subiu muito.

    Nos dias de hoje, praticamente 10% das pessoas do mundo sofrem com a depressão. Essa doença é considerada o mal do século. As razões para esse aumento são muitas, mas muitos médicos e filósofos que estudam essa doença relacionam a depressão com esses fatos evidenciados nesse texto. Não ter mais um local para se guardar por uns minutos do restante do mundo, ser bombardeado de informações a todo o tempo, tentar encontrar um aconchego para o ego nas redes sociais trituram o emocional humano e mostram essa realidade líquida que vivemos.

    Bauman, um sociólogo polonês, em seu livro “modernidade líquida”, apontou que atualmente nada que vivenciamos é sólido, as relações humanas estão passageiras, se termina uma amizade ao clicar em um botão nas redes sociais. Gerando, dessa forma, uma constante insegurança. As pessoas, em todas as faixas etárias, não sabem mais onde se apoiar.

    E onde encontrar uma base forte para suportar nossas cruzes diárias e não adoecer? O Papa Francisco, durante a homilia na festa de São Vicente de Paulo, refletiu sobre o salmo responsorial 87/88 (Resposta: Chegue a minha oração até a vossa presença) e nos indicou três mudanças comportamentais para encontrarmos essa base: “Em primeiro lugar, reconhecer em nós os momentos de desolação espiritual, quando estamos no escuro, sem esperança, e nos perguntar por quê. Em segundo lugar, rezar ao Senhor, como na liturgia de hoje, com este Salmo 87 que nos ensina a rezar, no momento de escuridão e em terceiro lugar, quando me aproximo de uma pessoa que sofre, seja por doenças, seja por qualquer sofrimento, mas que está na desolação completa, silêncio; mas silêncio com tanto amor, proximidade, ternura. E não fazer discursos que, depois, não ajudam e, também, lhe fazem mal”.

    Ao concluir, o Papa Francisco disse: “Rezemos ao Senhor para que nos conceda essas três graças: a graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos submetidos a este estado de desolação espiritual e também a graça de saber acolher as pessoas que passam por momentos difíceis de tristeza e de desolação espiritual”.

    Lucas Modotte Bernardo

    Coordenador do EJAC e Diocese

     

     

     

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